domingo, 16 de março de 2008

2005: INDÚSTRIA HOTELEIRA DEVE INGRESSAR NA MATURIDADE

2005: INDÚSTRIA HOTELEIRA DEVE INGRESSAR NA MATURIDADE
21/12/2004

Com tantos prognósticos receosos no início de 2004, não dá para a indústria da hospedagem brasileira reclamar do ano que passou. O crescimento do país aconteceu, apesar dos agouros e mandingas dos pessimistas de plantão. Os negócios movimentaram as feiras e eventos... o governo recuou na alíquota da COFINS dentro do setor hoteleiro... os turistas desembarcaram em nosso território. Além disto, a EMBRATUR, em um trabalho inédito, conseguiu captar grandes eventos internacionais que colocam o país, definitivamente, na rota do turismo de negócios a médio e longo prazo. Deixando o perfeccionismo de lado, até para os mais céticos é impossível negar que o governo fez a sua parte para tornar o turismo uma prioridade e a reboque deixou uma grande luz para a indústria da hospedagem. Agora é a vez de 2005; os bons ventos continuarão a soprar para o próximo ano?

Quando se fala de um país como o Brasil, cuja instabilidade política insiste em ser a rotina, é sempre difícil responder sobre as perspectivas de negócios; entretanto, percebendo-se os ventos, os navegadores diriam que existem boas notícias! Os fundamentos econômicos mantiveram sua regularidade, existe uma seriedade e austeridade fiscal, as tendências de crescimento estão claramente apontadas, o desemprego começa a dar sinais de queda e já não existem dúvidas, que juntamente com o agronegócio, o turismo é prioridade para o governo. Portanto, no momento, as ondas propiciam que a indústria da hospedagem se desenvolva, até de forma mais produtiva, quando comparada aos indicadores do ano que se esvai. Nada de grandes novidades sob o aspecto de investimentos. O boom e a euforia dos anos 90 não deve se repetir. O que estava projetado como investimento até 2007 apenas ganha maior motivação por parte dos empresários, mas não se altera, significativamente, para os próximos anos. Por outro lado, o que de fato irá acontecer é que os meios de hospedagem, para o próximo ano, terão uma maior rentabilidade e suas taxas de ocupações deverão exibir números mais confortáveis aos olhos de seus acionistas, principalmente para os hotéis que se localizam na faixa intermediária (os chamados 3 e 4 estrelas).

Porém, considerando-se ainda as ações do governo, espera-se que alguma luz se derrame sobre as cabeças pensantes e possa, no mínimo agregar esforços comuns para combinar crescimento do agronegócio e do turismo, destinando recursos e investimentos em infra-estrutura para o acesso às regiões centrais do país, pouco exploradas em seus potenciais turísticos e de escoamento da safra de grãos. Este parece ser um dos caminhos para o crescimento sustentável e alinhado com os produtos que o país escolheu para a base de sua estratégia de desenvolvimento. E mantendo o foco em crescimento, é preciso ter em mente que, diante da Deliberação Normativa 433 que estabelece a regulamentação dos meios de hospedagem, os investimentos ganham uma nova complexidade, sendo que os consultores da área terão que encontrar caminhos mais elegantes para orientar seus clientes-investidores além das obscuras brechas da legislação e o governo novos argumentos para restabelecer o equilíbrio do mercado hoteleiro e opções mais adequadas de linhas de financiamento.

Sob o aspecto do turismo interno, o aumento modesto da renda per capita, corrobora a a hipótese que hospedar-se em um hotel ainda continua sendo um artigo de acesso limitado e apenas cerca de 12% da população brasileira pode desfrutar deste luxo para gozar suas férias. Apesar desta limitação, novos hóspedes devem ingressar no mercado da hospedagem e as pousadas desenham-se como uma opção mais barata e com vantagens interessantes para classe média que emerge lá no fundo do túnel. Por isso, as pousadas devem continuar a crescer e a ampliar seus faturamentos, principalmente nos arredores das grandes cidades.

O ano de entra trará poucas novidades, sendo, em sua maior integridade, um período para colher os efeitos ainda não percebidos do crescimento de 2004. Se, aparentemente, isto parece pouco, deve-se considerar que esta perspectiva tranqüilizadora também abre espaço para os debates reais e efervescentes do setor, que ainda não foram tratados com devida atenção e maturidade.

Em resumo, a indústria da hospedagem, após mais de 20 anos poderá presenciar um Brasil que, em 2004, cresceu mais do que a média da economia mundial e possui indicadores bem otimistas para a sustentação deste resultado em 2005. Se o cenário não demonstra grandes riscos de ventos fortes, chuvas e trovoadas, também deve marcar a discussão das questões reais do setor. A primeira diz respeito ao sistema de classificação de hotéis que ainda não deslanchou. Poucos são os estabelecimentos que se enquadram às normas, tornando-se bem confortável a situação de se auto classificarem, oficialmente, como hotéis X, Y ou Z, o que não deixa claro para os consumidores a definição sobre o que está pagando e se estão contemplados todos os requisitos necessários, conforme a legislação. O segundo ponto diz respeito à isonomia entre os estabelecimentos hoteleiros e os condo-hotéis, cuja discussão transita nos porões dos lobs políticos, completamente afastada do cunho da legalidade e da maturidade que cercam os mercados efetivamente competitivos. E são questões importantíssimas, uma vez que os meios de hospedagem são parte integrante da engrenagem do turismo, que se tornou a nova menina dos olhos do governo.

Portanto, 2005 é quase tudo de bom! Se as premissas são agradáveis, em contrapartida é preciso aproveitar os bons ventos para se pensar profundamente nos rumos e estratégias da hotelaria nacional que perde seu espaço, ano a ano, para as redes estrangeiras e passar limpo, de vez, os aspectos legais que regem o setor. Não é possível que se atravesse mais um ano sem a definição de normalizações tão importantes que estabelecem as relações justas de mercado e do setor frente aos seus consumidores.

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